Auto-Retrato
Hesito em falar daquele que aparento ser, pois seria necessário descobrir quem realmente sou. Em um mundo de grandes limitações não me vejo interiorizado nos ventos que sopram para o norte, nem tampouco nos barcos velejantes que se destinam ao sul. De toda teoria prosto-me a contestação, ao imenso oceano do desconhecido que atravessa todas as objeções e exceções à regra. Recrio atitudes e palavras e nas mesmas criações desprezo o comum, o tributável, o cotidiano. Apresento-me em contradições, todavia se julgo necessário deleito no exato e me disperso no concreto. Não nasci para brilhar, afinal não sou purpurina, nem letreiro de motel e muito menos outdoor de anúncio de refrigerantes. Nasci para ser quem sou: homem, insano, profano, mistério, sutil, hostil, feliz, triste, utópico, amante, eremita dos dias meus. Nasci do sonho. Após eu, não haverá mais ninguém. Mas, é nosso destino...Sempre pergunto-me se alguém estará por perto se a chuva cair ao saber que um simples sonho não será mantido. Nenhuma chuva poderia chorar como eu chorei. Eu sou uma criança tão longe de casa.
Um a um, os céus desabam, eu posso não acordar. A história está tecida. As sortes estão ditas, a verdade é medida pelo peso do seu ouro. A mágica se dispersa sobre tapetes no chão e a fé é contemplada no som do mercado à noite.
Alguns dizem que uso máscaras...Você não gostaria da minha máscara? Não gostaria do meu espelho? Nem sempre gostamos de espelhos....Eles refletem a realidade, refletem a alma que muitas vezes esta obscura, atônita pelo preço da verdade. Serei algo disperso daquilo que me consome, dos amores que tive e das tristezas que levei. Amores??? Quão grande significado. Amar parece algo tão simples, quando na verdade se esconde atrás de tristes dias ou mesmo em demagogias essenciais a existência, como o próprio conceito de felicidade. Seria amar algo inerente ao homem? O que reluto é na rivalidade deste com a própria consciência. Uma consciência túrgida devastada pelo egoísmo, pela frustração do comum, do social. Abatida pelo próprio acaso, pela harmonia entre o desejo e o real, mas que é a causa do mal do século, a solidão. Sou parte disso e não posso negar o que me consome, o que me envaidece. Sou o que sou e não o que desejo, o que quero. Por muito tempo fui sonho, hoje sou real e cabe a você encontrar as respostas. Faça as perguntas. Deixe-me dançar, deixe-me cantar. Eu cavalgarei até a lua encontrar o mar.
"Alan Baloni"