UMA POUCO DO DIA DE HOJE
Em mim construi o meu próprio algoz, o meu próprio destino. Talvez não exista ajuda e, diante disso, não sei mais o que fazer!
Queria tanto que eu tornasse-me criança novamente, que eu nunca tivesse crescido. Crescer foi como se alguém tivesse destruído em mim todo um sorriso, todo um desejo que transformou-se em sangue venenoso que desce sobre o meu corpo aberto em chagas.
As coisas me parecem tão imundas que nem se quer sei chorar. Sufoco em mim o sentimento mais profundo com medo das pessoas. Lutando contra tudo isso venho querendo encarar os fatos; tento, mas é só de vez em quando. E isso dói, fere mais que se eu pegasse um revólver e colocasse em minha cabeça, e ali apertasse o gatilho, mesmo sabendo que o meu tempo seria escasso.
Acho que o que quero não é pedir demais: só um pouco de paz, de autonomia para sonhar, sorrir e chorar quando quiser. E quando me ver só, poder seguir o meu mundo sem medo das pessoas, sem medo de um dia não ter tido uma família...
Gostaria de agora ter alguém com quem eu pudesse conversar e soltar toda essa tristeza que sinto, ter um ombro amigo para chorar e desabafar-me.
É, infelizmente, penso que meu lugar não é aqui, e não sei se um dia qualquer cuspido no futuro poderei me encontrar; achar novamente aquele garoto que tanto brigou com o mundo e nada pode fazer para ele melhorar. Um garoto de fantástica imaginação, sem problemas e sem precisar escrever para conter suas lágrimas, para isolar o seu "eu", os seus delitos, para um dia poder gritar: "- Eu quero apenas viver os sonhos..." ou então morrer falando baixinho: "- Deus, Deus, somos todos ateus !"